Autor
Giovanni Boccaccio:
Giovanni
Boccaccio, poeta e crítico literário, cristão e contemporâneo aos fatos
abordados no Decamerão. Não se sabe
ao certo o local do seu nascimento que
foi em 16 de junho de 1313 e em 21 de
dezembro de 1375 morre aos 62 anos. Giovanni Boccaccio foi um importante humanista, autor de várias obras
notáveis, entre elas, o Decamerão, o poema alegórico Visão
Amorosa (Amorosa visione),
o De claris mulieribus e uma série de
biografias de mulheres ilustres. A obra "Decamerão" fez de Boccaccio
o primeiro grande realista da literatura universal.
Especializado
na obra de Dante Alighieri, ao ler "A Comédia", ficou tão fascinado
que a renomeou de "A Divina Comédia", título com que a obra ficou
imortalizada. Boccacio foi o autor de uma das
primeiras biografias de Dante, o Trattatello in laude di Dante, também
conhecido como Vita di Dante. Encontra-se sepultado na Igreja de São
Jacó e Filipe na Toscana, Itália.
A Obra: Decamerão
Decamerão,
também conhecido com o subtítulo de Príncipe Galeotto, foi escrito em dialeto
toscano e datada no período 1348 e 1353. A obra é dividida em dez capítulos
principais, que por sua vez têm dez histórias relacionadas ao tema de que trata
o capítulo. As histórias são contadas por um grupo de amigos que se isola para
proteger-se da peste que assola a cidade de Florença
por volta do século XIV. Falam sobre amores traídos, amores
realizados, histórias picantes de sexo, amores com finais felizes outras vezes
com finais tristes. O livro retrata fielmente a Idade Média e
desafia a Igreja e os costumes da época com tom debochado com que trata de
assuntos como religiosidade e sociedade.
No Proêmio
da primeira novela Boccaccio expõe o motivo de escrever o Decamerão:
É
humano ter a gente compaixão dos aflitos [...] Eu figuro entre estas criaturas,
se é que alguém já teve necessidade de compaixão – se este sentimento já foi
caro a alguém – se alguém dele já aferiu prazer (BOCCACCIO. 1987, p 31).
A
gratidão, no meu modo de entender, deve ser colocada entre as virtudes; e a
ingratidão deve ser lamentada. Para não ser ingrato, propus-me, a mim mesmo,
agora, que me posso considerar livre, a tarefa de oferecer algum alivio, dentro
do que me é possível, em troca daquilo que recebi (BOCCACCIO. 1987, p 32).
E
também faz uma narrativa sobre o flagelo da peste negra que dizimara a Europa,
constituindo um verdadeiro documento acerca desta praga que devastara o
continente.
Muitas
vezes, minhas graciosas mulheres, eu, pensando comigo mesmo, tomo em
consideração o quanto vocês são piedosas por natureza. Conheço inúmeras mulheres
para as quais, a seu juízo, esta obra terá começo triste e aborrecido. Triste e
aborrecida é a dolorosa recordação da pestífera montandade há pouco verificada.
A cada um, e a todos, que a viram, ou dela tiveram conhecimento, ela foi
prejudicial. E é essa recordação que esta obra traz no seu proêmio (BOCCACCIO.
1987, p 35).
Diferente
de outros livros convencionais, Decamerão não é separado por capítulos e sim
por jornadas, sendo elas 10 e em cada uma das suas jornadas tem 10 novelas. As
jornadas são nomeadas pelos nomes dos dez Personagens quando estes exercem
o seu reinado que era da sua responsabilidade por um dia, sendo o primeiro
escolhido por eleição de todos e os subseqüentes escolhidos por aquele ou
aquela que tivesse no comando do dia, resultando na respectiva ordem:
Jornadas
|
Título
|
Jornadas
|
Título
|
1ª Jornada
|
Pampinéia
|
6ª Jornada
|
Elisa
|
2ª Jornada
|
Filomena
|
7ª Jornada
|
Dionéio
|
3ª Jornada
|
Neifile
|
8ª Jornada
|
Laurinha
|
4ª Jornada
|
Filóstrato
|
9ª Jornada
|
Emília
|
5ª Jornada
|
Fiammetta
|
10ª Jornada
|
Pânfilo
|
O contexto histórico:
A
Renascença, período que compreende os séculos XIV a XVI, é marcado pelas
transformações constantes em vários seguimentos sociais: O comércio, a arte, a
literatura, a ciência, a política e também no campo religioso. O repúdio aos
valores medievais encontra força no antropocentrismo que tinha o homem com o
centro do universo e não mais a idéia teocêntrica que defendia Deus como o
centro de tudo. As idéias naturalista, racionalista e hedonista (do grego hedonê,
"prazer", "vontade"), fazem parte de cotidiano. A Igreja já
não é a fonte de todo o conhecimento e a Ciência apresenta-se como o caminho
para as respostas de todos os questionamentos. A região que hoje compreende a
Itália detinha uma grande parcela do monopólio comercial de especiarias
no mediterrâneo. A
burguesia mercantil começa a tornar uma classe importante e a intervir nos
destinos social político das cidades. O conflito entre burguesia e nobreza pode
ser encontrado na obra de Dante
Alighieri – um homem de família nobre – um dos seus maiores, senão, o maior crítico desta referida sociedade. Já Giovanni
Boccaccio embora tenha sido reconhecido como um admirador de Dante, representa
a burguesia com ideais próprios dos homens de sua classe social e uma linguagem
peculiar, este autor, juntamente com
Dante e Petrarca, considerados os mais importantes escritores da Renascença,
escreveu uma das mais belas obras o período, o Decamerão.
Nela, o autor explicita a sua preocupação com
a peste negra que, em meados do século XIV, dizimou grande parte da população não só na Itália, mas também em toda a Europa. Para dar o devido respaldo destacamos o
seguinte texto:
Afirmo,
portanto, que tínhamos atingido já o ano bem farto da Encarnação do Filho de
Deus de 1348, quando, na mui excelsa cidade de Florença, cuja beleza supera a
de qualquer outra da Itália, sobreveio a mortífera pestilência. Por iniciativa
dos corpos superiores ou em razão de nossas iniquidades, a peste atirada sobre
os homens por justa cólera divina e para nossa exemplificação, tivera início
nas regiões orientais, há alguns anos. Tal praga ceifara, naquelas plagas, uma
enorme quantidade de pessoas vivas. Incansável, fora de um lugar para outro; e
estendera-se, de forma miserável, para o Ocidente.
Os homens se
evitavam [...] parentes se distanciavam, irmão era esquecido por irmão, muitas
vezes o marido pela mulher; ah, e o que é pior e difícil de acreditar, pais e
mães houve que abandonaram os filhos à sua sorte, sem cuidar deles e
visitá-los, como se fossem estranhos. (BOCCACCIO. 1987, p 35-36,38).
BOCCACCIO, Giovanni. Decamerão.
2ª Ed. Rio de Janeiro: Abril cultural, 1971.
Parte de um roteiro elaborado para apresentação do seminário "A cultura popular na obra de Giovanni Boccaccio", na disciplina de Moderna I .
Integrantes:
André
Mikéias
Bartira
de Jesus Oliveira
Júlio
Santos Silva
Kleyton
Andrade Paiva
Mathias
Ferraz Cabral de Araújo
Miguel
Francisco de Goês Jr.