sexta-feira, 30 de março de 2012

Decameron - Filme 1971



Decameron é um filme italiano de Pier Paolo Pasolini, estreou em 1971.
Uma adaptação de nove histórias do Decameron de Giovanni Boccaccio, coleção de cem novelas escritas entre 1348 e 1353, que é considerada marco literário na ruptura entre a moral medieval e o realismo, substituindo o divino pela natureza como móvel da conduta humana. Lançando mão de doses de humor satírico, o filme é dividido em nove histórias, que compõem um painel da vida social na Itália medieval.


Interpretação:
Franco Citti 
 Ninetto Davoli
Jovan Jovanovic
Vincenzo Amato
Angela Luce
Giuseppe Zigaina

Baseado numa obra de Giovanni Boccaccio

Realização - Pier Paolo Pasolini 
Argumento - Pier Paolo Pasolini, 
baseado numa obra de Giovanni Boccaccio 
Produtor - Alberto Grimaldi 
Fotografia - Tonino Delli Colli 
Música - Ennio Morricone 
Tradutor - Storyline Audiovisuais, Lda.

Giovani Boccaccio e o Decamerão


Autor
Giovanni Boccaccio:

Giovanni Boccaccio, poeta e crítico literário, cristão e contemporâneo aos fatos abordados no Decamerão. Não se sabe ao certo o local do seu nascimento que foi em 16 de junho de 1313 e em 21 de dezembro de 1375 morre aos 62 anos. Giovanni Boccaccio foi um importante humanista, autor de várias obras notáveis, entre elas, o Decamerão, o poema alegórico Visão Amorosa (Amorosa visione), o De claris mulieribus e uma série de biografias de mulheres ilustres. A obra "Decamerão" fez de Boccaccio o primeiro grande realista da literatura universal.

Especializado na obra de Dante Alighieri, ao ler "A Comédia", ficou tão fascinado que a renomeou de "A Divina Comédia", título com que a obra ficou imortalizada. Boccacio foi o autor de uma das primeiras biografias de Dante, o Trattatello in laude di Dante, também conhecido como Vita di Dante. Encontra-se sepultado na Igreja de São Jacó e Filipe na Toscana, Itália.

 
A Obra: Decamerão

Decamerão, também conhecido com o subtítulo de Príncipe Galeotto, foi escrito em dialeto toscano e datada no período 1348 e 1353. A obra é dividida em dez capítulos principais, que por sua vez têm dez histórias relacionadas ao tema de que trata o capítulo. As histórias são contadas por um grupo de amigos que se isola para proteger-se da peste que assola a cidade de Florença por volta do século XIV. Falam sobre amores traídos, amores realizados, histórias picantes de sexo, amores com finais felizes outras vezes com finais tristes. O livro retrata fielmente a Idade Média e desafia a Igreja e os costumes da época com tom debochado com que trata de assuntos como religiosidade e sociedade.

No Proêmio da primeira novela Boccaccio expõe o motivo de escrever o Decamerão:

É humano ter a gente compaixão dos aflitos [...] Eu figuro entre estas criaturas, se é que alguém já teve necessidade de compaixão – se este sentimento já foi caro a alguém – se alguém dele já aferiu prazer (BOCCACCIO. 1987, p 31).

A gratidão, no meu modo de entender, deve ser colocada entre as virtudes; e a ingratidão deve ser lamentada. Para não ser ingrato, propus-me, a mim mesmo, agora, que me posso considerar livre, a tarefa de oferecer algum alivio, dentro do que me é possível, em troca daquilo que recebi (BOCCACCIO. 1987, p 32).

E também faz uma narrativa sobre o flagelo da peste negra que dizimara a Europa, constituindo um verdadeiro documento acerca desta praga que devastara o continente.

Muitas vezes, minhas graciosas mulheres, eu, pensando comigo mesmo, tomo em consideração o quanto vocês são piedosas por natureza. Conheço inúmeras mulheres para as quais, a seu juízo, esta obra terá começo triste e aborrecido. Triste e aborrecida é a dolorosa recordação da pestífera montandade há pouco verificada. A cada um, e a todos, que a viram, ou dela tiveram conhecimento, ela foi prejudicial. E é essa recordação que esta obra traz no seu proêmio (BOCCACCIO. 1987, p 35).

Diferente de outros livros convencionais, Decamerão não é separado por capítulos e sim por jornadas, sendo elas 10 e em cada uma das suas jornadas tem 10 novelas. As jornadas são nomeadas pelos nomes dos dez Personagens quando estes exercem o seu reinado que era da sua responsabilidade por um dia, sendo o primeiro escolhido por eleição de todos e os subseqüentes escolhidos por aquele ou aquela que tivesse no comando do dia, resultando na respectiva ordem: 

Jornadas
Título
Jornadas
Título
1ª Jornada
Pampinéia
6ª Jornada
Elisa
2ª Jornada
Filomena
7ª Jornada
Dionéio
3ª Jornada
Neifile
8ª Jornada
Laurinha
4ª Jornada
Filóstrato
9ª Jornada
Emília
5ª Jornada
Fiammetta
10ª Jornada
Pânfilo

 

O contexto histórico:

A Renascença, período que compreende os séculos XIV a XVI, é marcado pelas transformações constantes em vários seguimentos sociais: O comércio, a arte, a literatura, a ciência, a política e também no campo religioso. O repúdio aos valores medievais encontra força no antropocentrismo que tinha o homem com o centro do universo e não mais a idéia teocêntrica que defendia Deus como o centro de tudo. As idéias naturalista, racionalista e hedonista (do grego hedonê, "prazer", "vontade"), fazem parte de cotidiano. A Igreja já não é a fonte de todo o conhecimento e a Ciência apresenta-se como o caminho para as respostas de todos os questionamentos. A região que hoje compreende a Itália detinha uma grande parcela do monopólio comercial de especiarias no mediterrâneo. A burguesia mercantil começa a tornar uma classe importante e a intervir nos destinos social político das cidades. O conflito entre burguesia e nobreza pode ser encontrado na obra de  Dante Alighieri – um homem de família nobre – um dos seus maiores, senão, o maior  crítico desta referida sociedade. Já Giovanni Boccaccio embora tenha sido reconhecido como um admirador de Dante, representa a burguesia com ideais próprios dos homens de sua classe social e uma linguagem peculiar, este autor, juntamente com Dante e Petrarca, considerados os mais importantes escritores da Renascença, escreveu uma das mais belas obras o período, o Decamerão.
Nela, o autor explicita a sua preocupação com a peste negra que, em meados do século XIV, dizimou grande parte da população não só na Itália, mas também em toda a Europa. Para dar o devido respaldo destacamos o seguinte texto: 
  
Afirmo, portanto, que tínhamos atingido já o ano bem farto da Encarnação do Filho de Deus de 1348, quando, na mui excelsa cidade de Florença, cuja beleza supera a de qualquer outra da Itália, sobreveio a mortífera pestilência. Por iniciativa dos corpos superiores ou em razão de nossas iniquidades, a peste atirada sobre os homens por justa cólera divina e para nossa exemplificação, tivera início nas regiões orientais, há alguns anos. Tal praga ceifara, naquelas plagas, uma enorme quantidade de pessoas vivas. Incansável, fora de um lugar para outro; e estendera-se, de forma miserável, para o Ocidente.
Os homens se evitavam [...] parentes se distanciavam, irmão era esquecido por irmão, muitas vezes o marido pela mulher; ah, e o que é pior e difícil de acreditar, pais e mães houve que abandonaram os filhos à sua sorte, sem cuidar deles e visitá-los, como se fossem estranhos. (BOCCACCIO. 1987, p 35-36,38).

 
BOCCACCIO, Giovanni. Decamerão. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Abril cultural, 1971.

Parte de um roteiro elaborado para apresentação do seminário  "A cultura popular na obra de Giovanni Boccaccio", na disciplina de Moderna I . 
Integrantes: 
 
André Mikéias
Bartira de Jesus Oliveira
Júlio Santos Silva
Kleyton Andrade Paiva
Mathias Ferraz Cabral de Araújo
Miguel Francisco de Goês Jr.