O
ABSOLUTISMO – A ASCENÇÃO DE LUÍS XIV
O
filme “O absolutismo – A Ascensão de Luís XIV” de titulo oficial (La prise de pouvoir par Louis XIV), foi
lançado no ano de 1966 na França e dirigido pelo cineasta italiano Roberto
Rossellini que foi um dos mais importantes cineastas do neo-realismo. O filme é
sobre os primeiros anos do reinado de Luís XIV e como ele se tornou o maior
monarca absolutista da França.
Depois
da morte do cardeal Mazarino que controlava os assuntos do estado enquanto o
Rei Luís XIV não precisava se preocupar, ele resolveu que iria assumir sozinho
o seu reinado, inclusive dispensando o parlamento e sem nomear um
primeiro-ministro como era de costume naquela época. Tomando o controle do seu
reinado, não aceita a participação no conselho de sua própria mãe e seu irmão
para não ter ninguém que lhe desafiasse em suas decisões. Decide Mandar prender
o Sr. Fouquet que era superintendente de finanças do reino e usava da sua
função para privilégios financeiros e toma atitudes para não ser traído pelos
seus súditos pensando no pão e o trabalho para não ter miséria e a rebeldia da
população, além de aliviar os impostos. Enquanto o reinado aplica o seu plano
político com o objetivo de trazer a nobreza para perto. Resolve sair do Louvre
e aumenta e melhora o palácio de Versalhes que tinha capacidade para 15 mil
pessoas e a partir daí envolve a nobreza no seu cerimonial de corte, que
possibilitou a centralidade do seu poder na soberania pessoal e política.
Analisando
como o diretor Rossellini constrói a imagem de Luís XIV ao longo do filme,
percebe-se que no inicio, na primeira cena que se refere ao rei, quando ele
acorda e tem a presença dos seus súditos, mostra-se um rei sem comprometimento,
fazendo uma oração preguiçosa, sem completar as palavras. Depois de encontrar
com Mazarino já prestes a morrer, Luís XIV começa a tomar atitudes nobres ao
recusar a fortuna que Mazarino lhe ofereceu, dizendo: “Não é o seu afilhado que recusa, é o Rei”, demonstrando a consciência dos dois corpos do rei, o corpo natural
e o corpo político, como cita Kandorowicz:
[…] pelo Direito Comum nenhuma
lei que o Rei decrete enquanto Rei será invalidada por sua menoridade. Pois o
Rei tem em si dois corpos, a saber, um Corpo natural e um Corpo político. Seu
Corpo natural (se considerado em si mesmo) é um corpo mortal, sujeito a todas
as Enfermidades que ocorrem por Natureza ou Acidente, à Imbecilidade da
Infância ou da Velhice e a Defeitos similares que ocorrem aos Corpos naturais
das outras Pessoas. Mas seu Corpo político é um Corpo que não pode ser visto
nem tocado, composto de Política e Governo, e constituído para a condução do
Povo e a Administração do bem-estar público, e esse Corpo é extremamente vazio
de Infância e Velhice e de outros defeitos e Imbecilidades naturais, a que o
Corpo natural está sujeito, e, devido a esta Causa, o que o Rei faz em seu
Corpo político não pode ser invalidado ou frustrado por qualquer Incapacidade
em seu Corpo natural. (KANTOROWICZ).
Depois da conversa com Mazarino, o autor mostra uma
personalidade que foi uma das características principais para a ascensão do
principal Rei absolutista. Mesmo com a desconfiança da mãe e dos seus súditos
que diziam que Luís XIV gostava apenas de diversões e farras e que logo iria se
cansar de governar o seu reino, o Rei decide governar sozinho e toma atitudes
importantes para a centralidade do seu poder, governando a França entre 1643 a
1715, promovendo mudanças na economia, na política, no exército e nos costumes
franceses.
O que se percebe no filme é que tanto o Cardeal
Mazarino, quanto o superintendente de finanças do reino, o Sr. Fouquet,
aproveitam as suas funções administrativas para se favorecerem financeiramente.
O cardeal Mazarino se aproveitou do seu cargo e se tornou o homem mais rico da
Europa em meados do século XVII através das abadias que eram da Igreja, mesmo
assim o cardeal as usava para possuir riquezas. Já o Sr. Fouquet utilizava-se
do seu cargo de superintendente de finanças para desviar recursos para si,
enquanto o reino estava sem esses próprios recursos, inclusive, Fouquet admirado
com a beleza e a graça da jovem Luise, lhe oferece vinte mil moedas como
presente e ela recusa, expondo a situação ao Rei Luís XIV que diante disso
manda prendê-lo no seu próprio território
para que seja desmoralizado e para que todos vejam o poder do rei.
Os
antagonismos identificados no filme em relação às classes sociais, se tratando
das classes menos favorecidas, percebe-se que no inicio do filme na fala dos
primeiros personagens, eles reclamam que quando estão doentes, não tem um
atendimento eficaz como no caso do cardeal Mazarino que recebeu a atenção de
vários médicos. Em um momento do filme, vemos a presença de um manequim que se
sujeita a ser vestido da maneira como o Rei e os alfaiates bem entenderem e
ainda tem cortado o seu cabelo, sem que ele pudesse reclamar. Se tratando da
burguesia, o rei precisava de dinheiro e naquele momento a burguesia tinha o
dinheiro e alimentava o reino, o Rei deveria dar privilégios à burguesia, sem
dar muita liberdade para que essa própria burguesia se voltasse contra o reino
e o reino também não podia deixar a nobreza nas mãos da burguesia.
Luís XIV - Rei Absolutista
Luís
XIV certamente foi um dos maiores exemplos de Rei absolutista existente, pelo
poder que exerceu e por toda a organização política e social que foi construída
em torno de si. Temendo que o reino se virasse novamente contra o Rei, Luís XIV
decide trazer os nobres para corte com os melhoramentos no palácio de Versales
que tinha capacidade para quinze mil pessoas permanentes e em época de festa
suportava até trinta e duas mil pessoas. Entendendo que os nobres também
estavam nas mãos da burguesia, o seu plano político era que a nobreza fosse
para perto do Rei e que nele esperassem. Desde então, ele decidiu comprar todas
as dívidas dos nobres, e por isso, as propriedades dos mesmos passariam a ser
propriedades do estado, que os nobres não poderiam vender justamente porque
eles deviam ao rei. Com os eventos cotidianos para o envolvimento dos nobres no
palácio, como jogos, apresentações de teatro e outros eventos, se caracterizou
o poder na figura do rei que se tratando de Luís XIV, a centralidade política
foi o modelo mais perfeito no século XVII. Sem contar do papel das vestimentas,
que como ele mesmo disse quando estava confeccionando, que ela seria de uso
político e que a nobreza devia seguir o Rei em suas vestes de custo elevado e
bem aprimoradas e isso geraria custos altos que a nobreza não tinha como pagar
e ficariam mais uma vez, nas mãos do rei como ele próprio queria. Todos esses
fatores possibilitaram a centralidade do poder real na França.
Analisando
o cerimonial de corte estabelecido pelo Rei Luís XIV, identificamos o seu
importante papel na elevação e na manutenção do seu poder sobre o seu reino.
Ele estabelece no reino o cerimonial de corte e a etiqueta régia que foram
características fortes do seu reinado na França. Podemos perceber isso em vários momentos do
filme, como por exemplo, quando ele acorda na primeira cena que apresenta o Rei,
rodeado pela nobreza e por sua camareira onde ele faz uma oração, lava as mãos
com álcool de vinho e é vestido pelo irmão e mais tarde em um jantar, ele
convida um dos nobres de seu reino para ir alimentar os cães e para
acompanhá-lo na caça no dia seguinte e como foi citado em sala de aula, nesses
jantares o Rei tinha o costume de entregar uma tocha acessa a um dos nobres da
realeza e esse ficaria com a honra de acordar o rei no dia seguinte e vesti-lo
com uma roupa que ele mesmo escolheria. Enfim, através desse cerimonial de corte,
o rei promovia os desequilíbrios sociais, promovendo alguns indivíduos para que
esses achassem que eram agraciados pelo Rei, despertando o ciúme na nobreza e o
desequilíbrio momentâneo que se estabelece como a etiqueta régia e o próprio
cerimonial de corte. Nas refeições podemos perceber também a etiqueta régia,
pois o Rei não tinha o costume de comer com talheres e comia com as mãos, mesmo
assim, comia civilizadamente em porções pequenas, porque ele era o Rei e os
seus atos eram seguidos pela nobreza, sem esquecer que essa etiqueta régia era
estabelecida pelo próprio Rei e por isso ele deveria seguir, mesmo sem se
agradar das mesmas.
Percebe-se
que na figura do Rei Luís XIV se representou o verdadeiro espírito do
absolutismo, exercendo de maneira centralizada suas prerrogativas reais e
atribuindo a uma frase que ele mesmo criou “o Estado sou eu”. Segundo Strayer,
a justificativa do surgimento do estado e o estabelecimento do poder se da
porque o homem é naturalmente mau, o que justifica a existência do poder para
controlar os homens através do Rei. Por isso a necessidade de uma autoridade
suprema pelas leis e pela espada. Luís XIV conseguiu com as suas leis e o seu
plano político de centralidade do poder em si mesmo, através do cerimonial de
corte e outras atitudes, estabelecer a existência do seu poder e da sua
autoridade suprema.
Obrigada, tinha um trabalho de História e este texto foi muito útil para retirar ideias.
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