quarta-feira, 7 de março de 2012

O ABSOLUTISMO – A ASCENÇÃO DE LUÍS XIV


 
O ABSOLUTISMO – A ASCENÇÃO DE LUÍS XIV


O filme “O absolutismo – A Ascensão de Luís XIV” de titulo oficial (La prise de pouvoir par Louis XIV), foi lançado no ano de 1966 na França e dirigido pelo cineasta italiano Roberto Rossellini que foi um dos mais importantes cineastas do neo-realismo. O filme é sobre os primeiros anos do reinado de Luís XIV e como ele se tornou o maior monarca absolutista da França.
Depois da morte do cardeal Mazarino que controlava os assuntos do estado enquanto o Rei Luís XIV não precisava se preocupar, ele resolveu que iria assumir sozinho o seu reinado, inclusive dispensando o parlamento e sem nomear um primeiro-ministro como era de costume naquela época. Tomando o controle do seu reinado, não aceita a participação no conselho de sua própria mãe e seu irmão para não ter ninguém que lhe desafiasse em suas decisões. Decide Mandar prender o Sr. Fouquet que era superintendente de finanças do reino e usava da sua função para privilégios financeiros e toma atitudes para não ser traído pelos seus súditos pensando no pão e o trabalho para não ter miséria e a rebeldia da população, além de aliviar os impostos. Enquanto o reinado aplica o seu plano político com o objetivo de trazer a nobreza para perto. Resolve sair do Louvre e aumenta e melhora o palácio de Versalhes que tinha capacidade para 15 mil pessoas e a partir daí envolve a nobreza no seu cerimonial de corte, que possibilitou a centralidade do seu poder na soberania pessoal e política.
Analisando como o diretor Rossellini constrói a imagem de Luís XIV ao longo do filme, percebe-se que no inicio, na primeira cena que se refere ao rei, quando ele acorda e tem a presença dos seus súditos, mostra-se um rei sem comprometimento, fazendo uma oração preguiçosa, sem completar as palavras. Depois de encontrar com Mazarino já prestes a morrer, Luís XIV começa a tomar atitudes nobres ao recusar a fortuna que Mazarino lhe ofereceu, dizendo: “Não é o seu afilhado que recusa, é o Rei”, demonstrando a consciência dos dois corpos do rei, o corpo natural e o corpo político, como cita Kandorowicz:
 
[…] pelo Direito Comum nenhuma lei que o Rei decrete enquanto Rei será invalidada por sua menoridade. Pois o Rei tem em si dois corpos, a saber, um Corpo natural e um Corpo político. Seu Corpo natural (se considerado em si mesmo) é um corpo mortal, sujeito a todas as Enfermidades que ocorrem por Natureza ou Acidente, à Imbecilidade da Infância ou da Velhice e a Defeitos similares que ocorrem aos Corpos naturais das outras Pessoas. Mas seu Corpo político é um Corpo que não pode ser visto nem tocado, composto de Política e Governo, e constituído para a condução do Povo e a Administração do bem-estar público, e esse Corpo é extremamente vazio de Infância e Velhice e de outros defeitos e Imbecilidades naturais, a que o Corpo natural está sujeito, e, devido a esta Causa, o que o Rei faz em seu Corpo político não pode ser invalidado ou frustrado por qualquer Incapacidade em seu Corpo natural. (KANTOROWICZ).

Depois da conversa com Mazarino, o autor mostra uma personalidade que foi uma das características principais para a ascensão do principal Rei absolutista. Mesmo com a desconfiança da mãe e dos seus súditos que diziam que Luís XIV gostava apenas de diversões e farras e que logo iria se cansar de governar o seu reino, o Rei decide governar sozinho e toma atitudes importantes para a centralidade do seu poder, governando a França entre 1643 a 1715, promovendo mudanças na economia, na política, no exército e nos costumes franceses.


O que se percebe no filme é que tanto o Cardeal Mazarino, quanto o superintendente de finanças do reino, o Sr. Fouquet, aproveitam as suas funções administrativas para se favorecerem financeiramente. O cardeal Mazarino se aproveitou do seu cargo e se tornou o homem mais rico da Europa em meados do século XVII através das abadias que eram da Igreja, mesmo assim o cardeal as usava para possuir riquezas. Já o Sr. Fouquet utilizava-se do seu cargo de superintendente de finanças para desviar recursos para si, enquanto o reino estava sem esses próprios recursos, inclusive, Fouquet admirado com a beleza e a graça da jovem Luise, lhe oferece vinte mil moedas como presente e ela recusa, expondo a situação ao Rei Luís XIV que diante disso manda prendê-lo  no seu próprio território para que seja desmoralizado e para que todos vejam o poder do rei. 
Os antagonismos identificados no filme em relação às classes sociais, se tratando das classes menos favorecidas, percebe-se que no inicio do filme na fala dos primeiros personagens, eles reclamam que quando estão doentes, não tem um atendimento eficaz como no caso do cardeal Mazarino que recebeu a atenção de vários médicos. Em um momento do filme, vemos a presença de um manequim que se sujeita a ser vestido da maneira como o Rei e os alfaiates bem entenderem e ainda tem cortado o seu cabelo, sem que ele pudesse reclamar. Se tratando da burguesia, o rei precisava de dinheiro e naquele momento a burguesia tinha o dinheiro e alimentava o reino, o Rei deveria dar privilégios à burguesia, sem dar muita liberdade para que essa própria burguesia se voltasse contra o reino e o reino também não podia deixar a nobreza nas mãos da burguesia.   

 Luís XIV - Rei Absolutista
Luís XIV certamente foi um dos maiores exemplos de Rei absolutista existente, pelo poder que exerceu e por toda a organização política e social que foi construída em torno de si. Temendo que o reino se virasse novamente contra o Rei, Luís XIV decide trazer os nobres para corte com os melhoramentos no palácio de Versales que tinha capacidade para quinze mil pessoas permanentes e em época de festa suportava até trinta e duas mil pessoas. Entendendo que os nobres também estavam nas mãos da burguesia, o seu plano político era que a nobreza fosse para perto do Rei e que nele esperassem. Desde então, ele decidiu comprar todas as dívidas dos nobres, e por isso, as propriedades dos mesmos passariam a ser propriedades do estado, que os nobres não poderiam vender justamente porque eles deviam ao rei. Com os eventos cotidianos para o envolvimento dos nobres no palácio, como jogos, apresentações de teatro e outros eventos, se caracterizou o poder na figura do rei que se tratando de Luís XIV, a centralidade política foi o modelo mais perfeito no século XVII. Sem contar do papel das vestimentas, que como ele mesmo disse quando estava confeccionando, que ela seria de uso político e que a nobreza devia seguir o Rei em suas vestes de custo elevado e bem aprimoradas e isso geraria custos altos que a nobreza não tinha como pagar e ficariam mais uma vez, nas mãos do rei como ele próprio queria. Todos esses fatores possibilitaram a centralidade do poder real na França.
Analisando o cerimonial de corte estabelecido pelo Rei Luís XIV, identificamos o seu importante papel na elevação e na manutenção do seu poder sobre o seu reino. Ele estabelece no reino o cerimonial de corte e a etiqueta régia que foram características fortes do seu reinado na França.  Podemos perceber isso em vários momentos do filme, como por exemplo, quando ele acorda na primeira cena que apresenta o Rei, rodeado pela nobreza e por sua camareira onde ele faz uma oração, lava as mãos com álcool de vinho e é vestido pelo irmão e mais tarde em um jantar, ele convida um dos nobres de seu reino para ir alimentar os cães e para acompanhá-lo na caça no dia seguinte e como foi citado em sala de aula, nesses jantares o Rei tinha o costume de entregar uma tocha acessa a um dos nobres da realeza e esse ficaria com a honra de acordar o rei no dia seguinte e vesti-lo com uma roupa que ele mesmo escolheria. Enfim, através desse cerimonial de corte, o rei promovia os desequilíbrios sociais, promovendo alguns indivíduos para que esses achassem que eram agraciados pelo Rei, despertando o ciúme na nobreza e o desequilíbrio momentâneo que se estabelece como a etiqueta régia e o próprio cerimonial de corte. Nas refeições podemos perceber também a etiqueta régia, pois o Rei não tinha o costume de comer com talheres e comia com as mãos, mesmo assim, comia civilizadamente em porções pequenas, porque ele era o Rei e os seus atos eram seguidos pela nobreza, sem esquecer que essa etiqueta régia era estabelecida pelo próprio Rei e por isso ele deveria seguir, mesmo sem se agradar das mesmas.  


Percebe-se que na figura do Rei Luís XIV se representou o verdadeiro espírito do absolutismo, exercendo de maneira centralizada suas prerrogativas reais e atribuindo a uma frase que ele mesmo criou “o Estado sou eu”. Segundo Strayer, a justificativa do surgimento do estado e o estabelecimento do poder se da porque o homem é naturalmente mau, o que justifica a existência do poder para controlar os homens através do Rei. Por isso a necessidade de uma autoridade suprema pelas leis e pela espada. Luís XIV conseguiu com as suas leis e o seu plano político de centralidade do poder em si mesmo, através do cerimonial de corte e outras atitudes, estabelecer a existência do seu poder e da sua autoridade suprema.  

Um comentário:

  1. Obrigada, tinha um trabalho de História e este texto foi muito útil para retirar ideias.

    ResponderExcluir