terça-feira, 20 de março de 2012

O Incrível Exercito de BrancaLeone



O filme O Incrível Exercito de Brancaleone, titulo original (L`Armatta Brancaleone) foi lançado no ano de 1966 e dirigido pelo autor Mario Monicelli e distribuída pela Titanus Film, à obra pertence ao gênero da comédia. O filme conta a historia de um cavaleiro pobre e atrapalhado que recebe uma proposta de um grupo de miseráveis que haviam roubado de outro cavaleiro, que ficara ferido numa batalha, um pergaminho cujo proprietário seria enfeudado com uma terra em Aurocastro, estes maltrapilhos formam o exercito de Brancaleone e enfrentaram com ele varias aventuras hilárias passando pelos perigos da Europa medieval do século XI, como a peste negra, bruxas e os Sarracenos. Para a nossa análise iremos trabalhar com o ideal cavaleiresco na Europa dos séculos X e XI, analisando a imagem do cavaleiro tratada no filme em comparação com a bibliografia especifica e aulas expositivas sobre o tema.


O mundo no século X (e, já antes o da segunda metade do século IX) é duro e perigoso; sobreviver constitui, por si só, uma preocupação constante e um desejo obsessivo” (CARDINI, 1990. p.57). 
Esse período na Europa como cita o autor, é permeado de inseguranças tempo em que se proliferam por toda a Europa os castelos que servem de fortalezas contra as barbáries tão freqüentes, ainda dentro deste contexto a sociedade se divide em três ordens: os oratores,os bellatores e os laboratores, e nessa divisão tanto os oratores quanto os laboratores dependem da proteção dos bellatores, a figura do cavaleiro aos poucos vai transformando-se juntamente com o significado da sua determinação:  
“a equivalência (entre miles e caballarius) exprime com muita clareza que o único guerreiro digno desse nome era, aos olhos dos homens desse tempo, aquele que utilizava um cavalo. Por conseguinte, o sucesso da palavra miles deve ser relacionado com a evolução das instituições propriamente militares...”(DUBY,1989, p.28).  
Concomitantemente, a população vai se desmilitarizando, sem ter condições de possuir equipamentos bélicos, ou mesmo, um cavalo ficando o acesso a cavalaria restrito aos grupos de elite normalmente companhias de soldados a serviço de um senior, estes aspectos juntamente com a diferenciação jurídica com a concessão de privilégios como a isenção das requisições dos senhores banais serviram para diferenciar e distanciar ainda mais o grupo dos milites.  


            Os reencontros entre grandes detentores de domínios feudais, cada um deles dotado de escoltas armadas, torna-se o elemento da vida dos séculos X e XI, ou seja, do período correspondente à pulverização dos poderes públicos e a chamada << anarquia feudal>>” (CARDINI, 1990, p. 58). 
Neste momento os soldados espalham o terror da violência entre os indefesos da sociedade, até mesmo clérigos foram vitimas dos excessos desses soldados, este estado de violência externa e interna levou a Igreja a procurar meios para o controle das guerras e da violência por meio dos movimentos da pax e trégua Dei produzidos através de vários concílios, a partir de então a ética cavaleiresca se reveste de outras características:
 se grupos de milites obedeciam já a uma ética fundada na coragem, na fidelidade ao seu chefe e na amizade pelos companheiros de armas, a ética mais propriamente <<cavaleiresca>> nasce, porém, dos cânones eclesiásticos dos concílios de paz e baseia-se no serviço devido à igreja e a defesa dos pauperes – dos mais fracos – levada até ao sacrifício da própria vida” (CARDINI, 1990, p. 59). 
Agora em defesa dos desarmados da sociedade, com isso a Igreja inicia um processo de sacralização da atividade militar, as armas passaram a ser benzidas a partir deste momento ainda se admite na espiritualidade cristã também a gloria militar, um paradoxo do ponto de vista ideológico da Igreja que primava pela paz. O sistema ético cavaleiresco se afirma sobre duas bases principais que são a coragem (prouesse) e a sagacidade (sagesse), ambas características indeléveis aos cavaleiros e juntas estas duas qualidades produziriam o equilíbrio (mesure).  
           O diretor Mario Monicelli trata de forma satírica a ética cavaleiresca. A primeira cena em que o cavaleiro Brancaleone aparece no filme, ele prepara-se para uma disputa entre cavaleiros. O vencedor teria a mão da nobre donzela. O fato de os cavaleiros participarem desses eventos denota um ato de coragem, pois, depois das medidas tomadas pelo clero em comum acordo com os reis, em limitar os períodos de guerras, esse era o meio de não deixar os cavaleiros inativos. Em um outro momento do filme Brancaleone arquiteta um plano para deter o avanço de um exército que saqueava uma localidade que supostamente ele e seus companheiros de jornada “herdariam”. Esse exército infinitamente superior em número de homens do que os seus seguidores maltrapilhos. A cena mostra uma certa inteligência, poderíamos apontar a sagacidade do cavaleiro, embora no filme não tenha atingido o fim planejado pelo cavaleiro. Nos momentos finais do filme onde o cavaleiro está prestes a ser queimado juntamente com seus companheiros, o momento de reconhecer a derrota, as falhas, e o ato de orar e pedir perdão pelas faltas a Deus nos remete ao equilíbrio (mesure), a verdadeira virtude do cavaleiro. A palavra dada por um cavaleiro tinha grande valia. Nota-se que ao aceitar o empreendimento de acompanhar a virgem Matelda e guardá-la na sua pureza, até que seja entregue ao seu futuro esposo é muito bem tratado na obra italiana, embora tenha pecado pela displicência e um dos seus acompanhantes não resistiu aos encantos da bela mulher. 


           Traçando uma comparação entre o objeto que é o filme de Brancaleone e a bibliografia específica sobre o tema nobreza e cavalaria encontramos a primeira contradição nas próprias características do cavaleiro Brancaleone, um cavaleiro errante atrapalhado, mulherengo, com trajes e costumes alternativos que tenta usar o seu título para aproveitar a vida, algo que se difere dos cavaleiros dos séculos VII ao XI que tinham superioridade nos combates, era nobre o uso do seu cavalo, era definido por um sistema de valores e representações e que tinham um título de linhagem com diz Duby

Nos últimos anos do século XI, o qualificativo cavalheiresco perece [...] definir menos a situação de um individuo do que a de todo um grupo familiar - o que implica que a distinção social manifestada por esse título é considerada desde então com o bem de uma linhagem, em que ela se transmite de geração a geração os escribas, a partir deste momento, preocupam-se em opor um ao outro, entre os leigos, dois grupos, o dos cavaleiros, dos milites e dos camponeses, dos rustici. (DUBY, 1989, p. 24-25). 
          Outra contradição, um cavaleiro é sempre virtuoso e não pode deixar-se ser enganado tão facilmente e uma sátira também a postura da mulher na Idade Média, mas esse não é o objeto de nosso estudo. Encontramos vários pontos de confluência na obra de Monicelli com os textos e autores por nós estudados. Um dos exemplos é o fato de o cavaleiro Brancaleone ser totalmente um “sem posses”, possuía apenas o seu cavalo que já era um meio de grande dispêndio, sua vestimenta, espada, escudo e lança. No período medievo esses bens era um dos meios de distinguir as classes, apesar de não ter mais nenhum tipo de posse, o nosso cavaleiro ainda possuía o nome e naquela sociedade isso era de grande valia. Apesar de tais contradições e também de se tratar de uma sátira, não podemos negar que Brancaleone tem os seus valores, mesmo bem atrapalhado é um guerreiro valente que enfrenta com bravura os seus adversários e tem lealdade ao seu exercito, é obediente e fiel a palavra dada. 

 

        O Incrível exército de Brancaleone ainda é uma das mais honestas apresentações sobre a época medieval, mesmo se tratando de uma comédia, pois Brancaleone se depara com a peste negra, bárbaros, piratas, leprosos, vigaristas e outros seres que povoam a Europa medieval, além do encontro com o monge Zenone que acaba recrutando Brancaleone e seu exército para lutar na guerra santa. Uma bela representação da trilogia que marcou a crise do século “guerra, peste e fome. Encontramos vários pontos de confluência na obra de Monicelli com os textos e autores por nós estudados. Um dos exemplos é o fato de o cavaleiro Brancaleone ser totalmente um “sem posses”, possuía apenas o seu cavalo que já era um meio de grande dispêndio, sua vestimenta, espada, escudo e lança. No período medievo esses bens era um dos meios de distinguir as classes, apesar de não ter mais nenhum tipo de posse, o nosso cavaleiro ainda possuía o nome e naquela sociedade isso era de grande valia.  


Referências Bibliográficas:
CARDINI Franco. O guerreiro e o cavaleiro. In: LE GOFF. O homem medieval. Lisboa: Presença, 1990.
DUBY. A Sociedade Cavaleiresca. São Paulo, Martins Fontes, 1989.
LE GOFF, J e SCHIMITT, J-C. Dicionário Temático do Ocidente Medieval. Bauru;São Paulo: Edusc/Imprensa Oficial do Estado, 2002

Texto Produzido por: Júlio Santos Silva, Kleyton Andrade e Miguel Francisco de Goês Jr. Alunos do Curso de Licenciatura da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia em Vitória da Conquista - Ba.


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